Introdução  
 Leonardo da Vinci, artista renascentista italiano, nasceu em 15/04/1452. Existem algumas dúvidas sobre a cidade de seu nascimento: para alguns historiadores, seu berço foi  em Anchiano, enquanto para outros, foi numa cidade, situada na margem direita do rio Arno, perto dos montes Albanos, entre as cidades italianas de  Florença e Pisa.
 Biografia 
 Foi um dos mais importantes pintores do  Renascimento Cultural. É considerado um gênio, pois mostrou-se um excelente anatomista, engenheiro, matemático músico, naturalista, arquiteto, inventor e escultor. Seus trabalhos e projetos científicos quase sempre ficaram escondidos em livros de anotações (muitos escritos em códigos), e foi como artista que conseguiu o reconhecimento e o prestígio das pessoas de sua época.
 
 Auto-retrato de Leonardo da Vinci
Leonardo da Vinci fez estágio no estúdio de Verrochio (importante artista da época), na cidade de Florença. Viveu uma época em Milão, onde trabalhou para a corte de Ludovico Sforza. Até 1506, realizou trabalhos principalmente em Florença e tudo indica que nesta época tenha pintado sua obra mais famosa: a bela e enigmática Gioconda. Trabalho para o rei Francisco I da França, onde realizou belos trabalhos. Faleceu na  França no ano de 1519.
 Principais características das pinturas de Da Vinci : utilização da técnica artística da perspectiva, uso de cores próximas da realidade, figuras humanas perfeitas, temas religiosos, uso da  matemática em cálculos artísticos, imagens principais centralizadas, paisagens de fundo, figuras humanas com com expressões de sentimento, detalhismo artístico.
 Principais trabalhos de Da Vinci:
 Trabalhos de pinturas (artes plásticas): Gioconda (Monalisa) , Leda, Dama do Arminho, Madonna Litta, Anunciação, A Última Ceia, Ginevra de Benci, São Jerônimo, Adoração dos Magos, Madona das Rochas, Retrato de Músico, São João Batista, Madona do Fuso, Leda e o Cisne
 Trabalhos de  invenções: máquina voadora, máquina escavadora, isqueiro, paraquedas, besta gigante sobre rodas, máquina a vapor, submarino.
 Trabalhos Científicos: homem vitruviano, anatomia do tronco, estudo de pé e perna, anatomia do olho, estudo da gravidez, estudos e embriões.
 Projetos de Arquitetura : Projeto arquitetônico de uma cidade, projeto de um porto, templo centralizado.
Frases de Leonardo da Vinci: 
  - "A sabedoria é filha da experiência." 
  - "Quem pouco pensa, muito erra." 
  - "A simplicidade é a máxima sofisticação". 
  - "O tempo dura muito para aqueles que sabem aproveitá-lo."
Antropometria e ergonomia
       Este          artigo nasceu a partir de uma salutar conversa no telefone, com a indagação          da amiga Rosário Toscano, terapeuta ocupacional/Portugal,          sobre noções de pessoa, espaço e deficiência na história da arquitetura.
       Consideramos          a antropometria como o milenar processo ou técnica          de mensuração do corpo humano ou de suas várias partes.
       Quanto          ao espaço físico, o ambiente no qual o homem esta inserido, Vitrúvio          (Sec. I A. C.) lega para a arquitetura o exemplo do próprio homem com          as respectivas dimensões de suas várias partes do corpo. Este entendimento          para o bom uso dos espaços edificados pelo homem - e para uso do homem          - é até hoje uma norma seguida. A arquitetura tem por dogma refletir a          exemplar regularidade do corpo humano.
       Isto          acompanha a evolução do homem desde os seus primórdios nas sombras das          protetoras cavernas.
       Conseqüência          do advento da Revolução Industrial pela qual passou a Europa e, posteriormente,          o mundo, a ergonomia ganha no século XX grande destaque. A relação do          homem com a máquina; a relação do homem com o seu ambiente físico de trabalho;          a produtividade desejada e os recursos para que se produza cada vez mais,          fazem da ergonomia o estudo da possibilidade          e limites do desempenho do homem no trabalho. A ergonomia analisa as interações          entre o homem e os outros elementos de um dado sistema, visando melhorá-los          quanto a respostas motoras, conforto, fadiga, esforço e bem-estar.
       Vitrúvio, o homem e a arquitetura
       No          Renascimento, os ensinamentos de Vitrúvio passam          novamente a ganhar grande importância. É nessa época que os seus livros          são traduzidos para a língua italiana. Os dados antropométricos          apresentados por ele, são desenhados por Leonardo Da Vinci (± em 1490)          no seu célebre trabalho “L’Uomo di          Vitruvio” (O Homem de Vitrúvio).
       Nessa          referida ilustração são apresentadas as teorias de Vitrúvio. Um dos exemplos é colocar um homem com os braços          e mãos bem estendidos. A medida obtida entre uma mão até a outra é equivalente          à medida da sua altura. Coisa simples! Mas é com isto que Vitrúvio          demonstra a proporcionalidade entre as partes do corpo do homem e chama          a atenção para o entendimento do projetar as edificações a partir do mesmo          princípio. As diferentes partes do corpo do homem formam um interessante          conjunto de proporções que cabem em um círculo, bem como em um quadrado.          Para Vitrúvio a arquitetura deveria seguir o mesmo entendimento          de ter a proporcionalidade das partes para completar o todo harmoniosamente,          pois as partes formam o todo. Para ele a composição dos “recintos dos          deuses imortais”, ou seja: os templos, depende          da proporção. Para ele “nenhum templo pode ser bem composto sem que se          considere alguma proporção ou semelhança, a não ser que tenha exatas proporções,          como as dos membros segundo uma figura humana bem constituída”.
       O          belo e o desprezível na plasticidade e formas arquitetônicas e humanas
       Assim,          o homem forte, com o corpo construído ou “edificado” na robustez e proporções          harmoniosas, denotando firmes alicerces, simetrias, regularidade, preenchendo          o espaço de maneira geometricamente calculada, tem por base uma “figura          humana bem constituída”.
       Este          é um exemplo evidente que a construção de conceitos, ou concepções, referentes          à pessoa portadora de deficiência, é um fator sócio-histórico sedimentado          pelos séculos.
       A          importância social do homem sempre foi analisada ou atribuída mediante          a sua capacidade de produção. Constituir-se em um ser produtivo frente          aos mecanismos sociais sempre foi o desafio para a aceitabilidade ou exclusão.
       Desde          a Antiguidade agro-pecuária de Senhores e sub-humanos, a Idade-Média de Nobres feudais e servos, o Renascimento          com o Novo Humanismo, à Modernidade asfixiada pelas várias fases de evolução          do Capitalismo, as pessoas se dividem em produtivas e não produtivas.
       Historicamente          a pessoa portadora de deficiência representou no coletivo social o não          produtivo. Em uma abordagem sócio-político-econômica          o conceito de pessoa portadora de deficiência faz dela um produto não          produtivo. Ela representou o não rentável, um peso para o social, sendo          ela, portanto, por séculos, o exterminável, desprezível, intolerável,          abandonável, enclausurável, institucionalizável, Foram estas as várias formas de dizer          ‘banível’ que no passado a avaliação social de          produtividade impôs à pessoa portadora de deficiência.
       Sobre          as fases da vida à pirâmide funcional
       Após          ter feito uma pequena incursão nos valores sócio-históricos, apontamos          o caminho tomado pela arquitetura teórica de Vitrúvio, é momento de agregar evolução, complicar o já complexo.          Em 1946 o arquiteto Le Corbusier(1887-1965), dentro dessa mesma corrente, estabelece o seu          “Modulor” com dimensões para a escala humana, aplicável universalmente          na arquitetura.
       Mas          apontamos que ainda se tratava da escala humana para o homem de Vitrúvio,          para a “figura humana bem constituída”. Sabemos que um módulo é uma medida          reguladora das proporções de uma obra arquitetônica. Com o seu trabalho          Le Corbusier quis mostrar que a natureza é matemática.          Ele criou a sua escala humana por entender ser complicada a existência          e uso de dois sistemas de medidas: o anglo-saxão e o métrico decimal.          Suas pesquisas sobre a escala humana se basearam nos estudos de Leonardo          Pisano Fibonacci(1170-1250), na seção áurea          e na procura da harmonia visual na arquitetura. No entanto é importante          lembrar que os sistemas métricos e o de polegadas dificultam a aproximação          e entendimento dos diferentes países quando dos tratados de antropometria,          de ergonomia, das normas e critérios de acessibilidade para pessoas portadoras          de deficiência ou pessoas idosas.
       Mas          estes detalhamentos são tão interessantes e complexos que dariam um outro          tema de estudos.
       Harmonia          visual e funcionalidade humana.
       Junto          ao entendimento do papel da arquitetura, da antropometria e da ergonomia para garantir o homem produtivo          e banir o não produtivo, vemos hoje que é importante analisar e comparar          os aspectos dimensionais e funcionais da relação homem-ambiente, pois          vários conceitos caíram e novos foram forjados sobre o desenvolvimento          e o papel do homem em relação a sua potencialidade e capacidade.
       A          partir da década de 60 muitas coisas mudaram nas sociedades. Constantes          questionamentos sobre os direitos sociais; maior quantidade e diferentes          estudos sobre as populações; novos embasamentos técnicos e demográficos,          auxiliaram para que essas mudanças ocorressem.
       A          constatação do grande número de pessoas portadoras de deficiência, as          necessidades das pessoas idosas e os avanços da medicina, impulsionaram para o completo entendimento de que os homens          não são iguais.
       São          os países nórdicos e a Inglaterra que iniciaram o questionamento de que          o entendimento vitruviano da “figura humana          bem constituída” pode ser substituído pelo do homem concebido, respeitado          e analisado dentro da sua diversidade de capacidades e, também, incapacidades.          O questionamento está sobre a idéia secular do homem padrão cheio de força,          de capacidades físicas, locomotoras, sensoriais e cognitivas. Começou-se          aí a exigir que o homem seja aceito como indivíduo em constante evolução.          Para isto inicia-se o entendimento da pirâmide da evolução durante as          idades da vida. Nesta pirâmide o indivíduo apresenta diferentes capacidades          ou incapacidades de acordo com o avanço de sua idade. E esta evolução          também acontece com as pessoas portadoras de deficiência.
       Então,          é nesse contexto presente na década de 60 que Selwyn Goldsmith torna-se um dos          primeiros autores a introduzir nas medidas antropométricas          as variantes de sexo, idade e capacidades das pessoas. A pessoa adulta          em cadeira de rodas passa a figurar nos manuais de antropometria.          A partir deste fato, os objetos, as dimensões nas edificações, e o mundo,          também poderiam a ser vistos, tendo por base          a realidade do homem em uma cadeira de rodas, as suas possibilidades de          alcance e uso do meio onde vive.
       Depois,          na década de 80, o “Human Scale”, de H. Dreyfuss, acrescenta a figura da criança nos seus conhecidos estudos          antropométricos. E no caso, também a criança          em cadeira de rodas. Portanto tínhamos o homem e a mulher adultos e a          pessoa adulta em cadeira de rodas. Com Dreyfuss          passamos a ter também a criança e a criança em cadeira de rodas.
       As          ajudas e barreiras dos fatores ambientais e as incapacidades latentes          do homem
       Recentemente          Selwyn Goldsmith, pensando no desenho arquitetônico para todos, formatou          uma nova pirâmide constituída por oito diferentes realidades nas quais          as pessoas estão inseridas. Nesta pirâmide, as pessoas se agrupam de acordo          com as características funcionais que elas apresentam. Isto independe          do seu sexo, da sua idade; depende exclusivamente dos seus aspectos funcionais          frente aos fatores ambientais nos quais ela está inserida. Como exemplo          temos os edifícios de uso público que podem representar grandes obstáculos          para as pessoas. Esses edifícios nem sempre são pensados para garantir          o uso das pessoas nas suas diferenças e diversidade de habilidades, na          sua funcionalidade e incapacidade de acordo com as diferentes esferas          da existência. Essas pessoas são desde as que pulam, saltam, sobem escadas,          carregam bagagem; pessoas hábeis, mas não com habilidades atléticas; pessoas          com necessidade de ir com maior freqüência no sanitário (necessidade de          quantificação racional de sanitários na edificação) ou necessidade de          sentar-se ou descansar; pessoas idosas que começam a perder ou apresentar          a diminuição de algumas de suas habilidades, pessoas empurrando carrinhos;          pessoas com deficiência ambulatória parcial; pessoas em cadeira de rodas          com sua locomoção autônoma; pessoas em cadeira de rodas que necessitam          de auxílio de terceiros para a sua locomoção; pessoas totalmente dependentes.
       O          papel da arquitetura pensada para o conforto e uso do homem, para servir          e acolher o homem – além dos valores estéticos, simbólicos, culturais          – está em seu novo paradigma vinculativo do entendimento da discriminação          arquitetônica como o grande antônimo do conceito da arquitetura inclusiva.
       Discriminação          Arquitetônica x Arquitetura Inclusiva
       Agir          na dicotomia discriminação arquitetônica/arquitetura inclusiva é atuar,          sobretudo, nos dados antropométricos. Ter a          compreensão das medidas das várias partes do corpo humano nos possibilita          o cálculo da área necessária para o alcance e possibilidade de manipulação,          uso ou acionamento de um objeto.
       Quanto          mais os projetos forem pensados para atender conjuntamente as necessidades          funcionais do maior número possível de pessoas, mais estaremos praticando          a arquitetura inclusiva.
       Para          a realização dos projetos de arquitetura, ou mesmo de ergonomia, é capital          a existência de dados da mensuração da população do país. É evidente que          cada país deve arquitetar, prover os seus projetos, levando em consideração          a média antropométrica da população. Com estes          dados torna-se viável, mais racional e eficiente a intervenção nos espaços          naturais ou construídos. A partir desses dados podemos melhor solucionar          as necessidades de mobilidade, visuais, táteis, cognitivas e auditivas          das pessoas.
       A          arquitetura inclusiva deve exercer o papel de compensador e facilitador          das diferentes capacidades de uso apresentadas pelas pessoas.
       As          regras de acessibilidade devem seguir os dados antropométricos. Devem refletir e basear-se          nos dados médios da população e apresentar critérios que atendam o uso          do maior número possível de pessoas. Sem esse princípio as normas não          serão igualitárias e correm o risco de atender somente          uma parcela específica da população, ou tipos específicos de incapacidades          de uma porcentagem da população.
       O          homem em sua diversidade
       Como          exemplo desse amálgama podemos colocar juntas pessoas de uma mesma origem:          um homem adulto em pé, uma mulher adulta em pé, uma pessoa adulta em cadeira          de rodas e uma criança em pé. Estas pessoas terão a altura de sua mão          sempre dentro do que chamamos “eixo de excelência”. Alturas muito próximas          umas das outras, independentemente se estão sentadas ou em pé. Quem está          em pé pode abaixar o braço e quem está sentado pode esticar o braço e          a criança pode erguer o braço. O eixo de excelência está em média entre          0,80 m do chão até 1,10 m de altura. É dentro deste princípio no plano          horizontal que se estabelece a colocação dos objetos como acessórios,          maçanetas, botoeiras, pegadores, barras de apoio, corrimão, guarda-corpo,          interruptor, teclado de computador, telefônicos públicos, mobiliário urbano,          entre outros.
       Sabemos          também que muitas pessoas portadoras de deficiência fazem uso de cadeira          de rodas, bengalas, muletas, andador, ou andam com auxílio de um acompanhante          ou um cão guia. Com isto os espaços devem ser dimensionados não somente          para a pessoa, mas também para bem receber e não obstaculizar a órtese, o acompanhante ou o cão-guia.
       Como          tentamos mostrar nos exemplos acima, as pessoas não são idênticas, nem          em dados antropométricos, nem em funcionalidades.          Cada pessoa possui as suas particularidades e é muito difícil normatizar o homem em sua diversidade. O ser humano sofre          muitas alterações com o passar dos anos. Isto possibilita a aquisição          de muitas habilidades ou também a perda de capacidade.
       Para          além do normológio, do normodotado, a arquitetura inclusiva nos edifícios, meios          urbanos, veículos, objetos, mobiliários, equipamentos de saúde, entre          outros, desempenha um papel de extrema importância para propiciar a participação          das pessoas com incapacidades na sociedade. Prover a arquitetura inclusiva          a partir de estudos minuciosos, abrangentes, seguros, que levem em consideração          as fases da vida, a antropometria, o design          inclusivo, a funcionalidade e a tecnologia, é fundamental para não gerarmos          inadequação, segregação, exclusividade, prioridades de uso. Ela é essencial          para propiciarmos a participação e o reconhecimento de todos.
       Do          Inclusivo – A arquitetura e design
       Em          resumo, o homem só pode produzir bem e satisfatoriamente se as ajudas          técnicas estiverem ao seu favor. Na maioria dos          casos as ajudas técnicas são nada mais que um batalhão de profissionais          das mais diversas áreas, trabalhando e produzindo para que as pessoas          portadoras de deficiência consigam exercer o máximo da sua capacidade.          A arquitetura e design (arquitetura inclusiva e design inclusivo) são          ferramentas importantes para este propósito. Como simples exemplo pode-se          imaginar que eles estão presentes nos espaços edificados dos escritórios          (rampa, elevador, altura de janelas, revestimento de piso, cores, iluminação,          corredores) bem como nos seus mobiliários e equipamentos (dimensões de          mesas, cadeiras, armários, teclado de computador, aparelho de telefone,          maçaneta de portas e de armários) desenhados para atender as necessidades          dos usuários. Este é o papel da arquitetura inclusiva em cooperar com          o atual conceito/concepção sócio-histórico da deficiência, possibilitando          condições biologicamente fundadas sobre a diversidade humana para que          as pessoas portadoras de deficiência tenham igualdade de oportunidades,          respeitando-se as suas limitações na atividade, mas adequando os fatores          ambientais para que elas possam se mostrar produtivas, integradas.
       Se          pegamos todos estes recursos e colocamos em altura, lugar ou para          prioridade desta ou daquela pessoa, não temos uma Arquitetura Inclusiva,          temos somente uma proposta de adequação ou adaptação na arquitetura. Tão          exclusiva quanto excludente.